Centro de Pesquisa Boldrini torna tratamento contra leucemia mais personalizado

by - sexta-feira, dezembro 18, 2020

Método de sequenciamento de DNA em larga escala foi adaptado para o acompanhamento da Doença Residual Mínima nos pacientes com leucemia linfoide aguda (LLA). Aplicação da técnica é inédita no Brasil.

Pesquisadoras e orientador Andrés Yunes buscam novos modelos para o tratamento da LLA


Criado há dois anos com o objetivo de fomentar pesquisas para novos testes genômicos para o diagnóstico das mutações gênicas de risco e busca de novos fármacos para o tratamento do câncer pediátrico, o Centro de Pesquisa Boldrini (CPB), localizado em Campinas, SP, apresenta procedimento técnico pioneiro no Brasil para análise da Doença Residual Mínima, que é um exame laboratorial imprescindível para o monitoramento do tratamento de pacientes pediátricos, portadores de leucemia linfobástica aguda (LLA), objetivando melhor eficiência ou menor toxicidade no combate à doença.

A pesquisa desenvolvida e aplicada por um mestrando e três pesquisadoras da instituição, sob orientação do pesquisador José Andrés Yunes, avalia marcadores que permitem o acompanhamento da Doença Residual Mínima nos pacientes e possibilita observar a resposta ao tratamento, adequando-o melhor a cada paciente.  Conhecendo a velocidade de erradicação das células leucêmicas é possível ao médico direcionar o tratamento para cada caso.

Conhecido como mensuração da Doença Residual Mínima (DRM) por sequenciamento de nova geração, o método consiste em quantificar as células leucêmicas ao longo dos primeiros três meses da terapia. Métodos tradicionais de exames, como citologia, não são capazes de detectar pequena quantidade de células leucêmicas. Comparado com a técnica do PCR, método que havia sido implantado no Boldrini em 2009, o novo método de sequenciamento massivo do DNA demanda menos mão-de-obra, é muito mais rápido e permite acompanhar todos os clones leucêmicos de uma só vez, sendo ainda de menor custo. Até mesmo internacionalmente, ainda são poucas as instituições hospitalares que implementaram a tecnologia do sequenciamento massivo do DNA para a análise da doença residual, mas pelas vantagens acima listadas, a tendência é que se torne o método padrão ouro.

“Graças a essa pesquisa, conseguimos acompanhar em determinados momentos do tratamento, como os diferentes clones das células malignas estão reagindo ao tratamento quimioterápico. Se a leucemia estiver demorando para ser eliminada, o que seria indicação para um aumento da intensidade do tratamento ou inclusão de novas terapias-alvo.  Ao contrário, sendo a resposta é satisfatória. Isso significa um acompanhamento mais preciso para os médicos e um bom prognóstico para os pacientes. “Nosso trabalho provê um auxílio no ajuste do tratamento, para os pacientes que não respondem bem à terapia inicial”, explica Yunes.

O exame citológico tradicional da avaliação da resposta ao tratamento quimioterápico é feito a partir da análise da medula óssea do paciente, sistematizado em 3 momentos iniciais do tratamento. Este método citológico, contudo, depende em muito da habilidade e experiência do profissional especializado em citologia.  Métodos mais precisos como a Citometria de Fluxo, técnica do PCR e o Sequenciamento massivo do DNA possuem maior sensibilidade e especificidade, aumentando a precisão dos resultados. “De maneira rápida e mais eficaz você consegue determinar a quantidade de células leucêmicas em meio ao total de células saudáveis”, detalha a pesquisadora Patrícia Jotta.

A Dra Silvia Brandalise ressalta que esta não é a primeira vez que o Centro Infantil Boldrini é pioneiro em implantar técnicas mais precisas para a quantificação das células malignas residuais. “O Boldrini foi o primeiro hospital no Brasil a usar a técnica do PCR em tempo real para a análise da Doença Residual, em 2009, tendo papel relevante na disseminação desta técnica em vários serviços localizados em diferentes estados do país. A partir de 2018, o hospital implantou a técnica de sequenciamento massivo do DNA, devido à maior exatidão.

O projeto de pesquisa foi desenvolvido pelas pesquisadoras Patrícia Yoshika Jotta, Mônica Aparecida Ganazza Done e Caroline de Oliveira Lopes, do Centro Infantil Boldrini, do mestrando Guilherme Giusti da UNICAMP e contou com a participação do bioinformata Dr João Meidanis.

“Hoje o Boldrini é pioneiro no Brasil nesta técnica, mas buscamos constantemente novos métodos para detectar marcadores de prognóstico ou para o acompanhamento da resposta ao tratamento, conta Mônica.

As pesquisadoras lembram que a implantação do Centro de Pesquisa Boldrini facilitou o trabalho da equipe. “Ter um espaço reservado para a pesquisa do câncer da criança e do adolescente e para as doenças do sangue facilitou nosso trabalho, o tornou mais produtivo, com os equipamentos de alta tecnologia. A melhor organização do espaço dos laboratórios tem nos permitido uma logística mais ágil e um melhor controle de qualidade. Ao contar com tecnologias que antes não tínhamos, a medicina e os pacientes ganham muito com isso”, enfatiza Patrícia.

Hoje, segundo as pesquisadoras, são realizadas por mês cerca de 60 novas análises de Doença Residual Mínima. “Sabemos que o nosso trabalho possibilita o acompanhamento mais preciso do paciente, auxiliando o médico a proporcionar o melhor tratamento para o paciente”, finaliza Mônica.

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